quinta-feira, novembro 04, 2004

Monólogo da alma


Por vezes limito-me a escrever, sem titulo, sem objectivo, sem principio, meio ou fim.
Agarro em meia dúzia de caracteres agito-os, espremo-os e rasgo-os se assim o entender. Só depende daquilo que os sentimentos me proporcionarem na altura, só depende do estado de espírito, só depende da alma
Coisa engraçada a alma, nunca a vi. Será que alguém viu?
As vezes perco-me no tempo a tentar imaginá-la, a tentar perceber o que é e porque é, e qual a sua utilidade. Já o perguntei a mim mesmo e de mim mesmo não obtive resposta. Talvez a minha alma não me queira responder, talvez se queira manter num cantinho do meu ser, à espreita, zelando por mim como se de um anjo se tratasse.
Uma coisa eu sei, tenho-a em mim bem cravada como uma identidade mais do que inata, mais do que simplesmente atribuída num jogo de sorte ou de azar. Completa-me com toda a certeza, é a minha sombra, o meu reflexo e o reflexo que os outros e o próprio mundo têm de mim. É cada um dos meus suspiros, cada uma das minhas angústias, todos os meus sorrisos e a essência das minhas expressões. Tenho-a para mim como a chama que me dá vida e como uma igualdade que creio existir no intimo de cada um. Coisa engraçada, esta alma, que muitas vezes se contradiz a si mesma, sem palavras, sem sons, sem gestos, tornando-nos em muito iguais mas em muito mais, diferentes, dando-nos aquilo que em cada um de nós nos difere, dos outros.
É ela que dita em nós qualidades, tal como a simpatia. É ela que dita em nós defeitos ou lacunas de humor como um curto adormecer dos nossos dotes eternamente acordados .
Era esta alma que me consumia e se escorria por mim, no peso quase que invisível de uma lágrima em tempos de gaiato birrento, numa qualquer idade dos porquês, à espreita do armário que se aproximaria mais tarde.
Hoje, eu, semelhança daquilo que se tem como homem, sou mais uma vez consumido por ela que não vejo e que mais uma vez se escorre por mim, na forma destas palavras que numa simplicidade quase complexa, gentilmente vos ofereço.


Posted by Hello

3 comentários:

Ricardo disse...

A alma é de facto "algo" que é dificil explicar e materializar, o que não significa que ela não exista e que ela não faça parte do nosso todo!... Sem palavras, sem sons e sem gestos... dizes! Será? Sim é verdade,,, mas no meu entender há algo que espelha aquilo que de mais profundo se passa na ALMA, algo que a espelha e por mais que ela - a alma - tente, não consegue disfarçar. Os olhos, esse órgão tão sensível, mas tão sincero e que são o espelho da alma!... Alma triste... olhar triste, alma feliz... olhar feliz, alma apaixonada... olhar perdido e encantado!...
A alma corre em nós, consome-nos, tornanos aquilo que somos e não aquilo que queremos ser. É a nossa essência no estado mais pura

Anónimo disse...

Muito profunda esta tua reflexão sobre a alma... Acho que conseguiste fazer uma boa caracterização da alma, principalmente desta alma lusitana, a meu ver talvez das mais caracterizantes que há no mundo inteiro... A alma lusitana, que nos faz tão diferentes e ao mesmo tempo tão especiais neste rectangulo à beira-mar plantado!... Apesar de todas as crises que o nosso país atravessa, acho que mesmo nos devemos orgulhar do nosso passado, da nossa alma e também de um sentimento tão lusitano como a saudade...
Abraço gajo!

Anónimo disse...

rapaz... desta vez tocaste a minha alma... gostei bastante do texto... continua porque estas a fazer bons textos. a minha alma ficou nua perante a tua descrição tao profunda... gostei bastante.. beijos e abraços